quarta-feira, 6 de junho de 2012

Roteiro para Elaboração de Projetos de Trabalho Comunitário

Gente, 

Esse texto é ótimo para quem está iniciando na elaboração de projetos, até hoje recorro as dicas inscritas   pelo Jornalista Ricardo Fiegenbaum - Assessor do Departamento de Diaconia da IECLB.

 Um conto de As Mil e Uma Noites narra a história do jovem Aladim que ao esfregar uma lâmpada mágica, tira dela um gênio capaz de realizar os seus desejos. Certamente a maioria de nós já sonhou com a tal lâmpada que realiza desejos por mágica. Mas, segundo informações, a lâmpada de Aladim foi perdida para sempre. Por isso, hoje, quando alguém quer realizar um desejo ou concretizar um sonho, precisa dedicar-se à gratificante e árdua tarefa de planejar, de projetar. O objetivo deste texto, portanto, é explicar, passo por passo, como é que se faz isso.

Ponto de partida

 Tudo começa com um sonho. Tudo o que a gente não sonha, não realiza. Mas também é verdade que nem todo o sonho é possível de se realizar. Por isso, quando a gente começa a se ocupar com a elaboração de projetos, a gente também vai delimitando o poder do nosso sonho, enquadrando-o na realidade em que nos encontramos. O sonho nos impulsiona para a ação. Mas entre sonhar e realizar há um caminho, às vezes, longo a percorrer. Daí porque é preciso confrontar esse desejo, esse sonho inicial com a realidade em que nos encontramos. É preciso saber que caminho vamos percorrer para alcançá-lo e de que necessitamos para que ele vire realidade.
 Então, o ponto de partida, o impulso inicial para a realização de um projeto, é sonhar. E sonhar é imaginar uma realidade que ainda não é, mas que se encontra no nosso desejo. Agora, para saber se essa realidade sonhada, imaginada, desejada tem chances de se materializar é preciso dar um passo mais: Saber quem somos.
Primeiro passo: Identificação (quem somos)
 Ao elaborar um projeto comunitário estamos buscando modificar uma determinada realidade a partir de uma organização, de uma comunidade, que já existe, com suas características próprias. Por isso, o primeiro passo para alcançar o nosso sonho é poder dizer quem somos, qual é a identidade da comunidade, do nosso grupo. Em outras palavras é responder a algumas das seguintes perguntas:
 q      qual é o nome da comunidade
 q      qual é a sua história (relato breve)
 q      quais são seus princípios e objetivos (isso geralmente está definido no início do estatuto da comunidade)
 q      onde a comunidade atua
 q      como está organizada (onde são tomadas as decisões, quem são as pessoas que trabalham na comunidade – voluntariamente ou não, quais são as pessoas-chave para o nosso projeto se realizar)
 q      quais são as atividades que a comunidade desenvolve (cultos, visitas, etc.) e quais estão relacionadas ao nosso projeto
 q      que experiência tem na área do nosso projeto
As respostas a estas perguntas devem nos ajudar a conhecer quem somos e como o nosso sonho se relaciona com o que somos. Em outras palavras, devem nos levar a discernir ou identificar, entre as nossas características como grupo, comunidade ou instituição, o que ajuda a realizar o nosso sonho – e como ajuda – e o que atrapalha.
 Feito isso, o próximo passo é definir o contexto, o lugar, a realidade onde o nosso sonho vai se concretizar.
Segundo passo: Contextualização (onde estamos)
 Para chegar a algum lugar é preciso saber de onde se está partindo. Se um sonho é a projeção de uma realidade que ainda não existe mas que a gente quer fazer existir, então precisamos levar em conta a realidade que já está aí. É isso que se chama de contextualização. O contexto é o que está na volta. São dados sobre a realidade onde o projeto vai se dar. Na prática é saber dizer onde estamos, qual é o contexto social, político, econômico, etc. implicado. Esse contexto precisa ser descoberto, diagnosticado, relatado, conhecido pelos proponentes do projeto. Ele se dá a conhecer através de perguntas do tipo
 q      como é o lugar onde vamos realizar o projeto (cidade, bairro, vila, hospital ou escola, etc.)
 q      quem são as pessoas que vamos envolver com o projeto (onde vivem, o que fazem, de que necessitam, como podem participar: dados os mais precisos possíveis e que tenham importância para o projeto)
 q      existe algum projeto ou atividade semelhante a que sonhamos sendo realizada (quem faz, quando faz, como faz)
 q      quais serão as possíveis dificuldades que o nosso sonho vai encontrar para se realizar
 q      que outras informações são importantes para o nosso sonho
Quando fazemos bem esta etapa, quando conhecemos bem a nossa realidade, temos dados muito bons para dar o próximo passo da elaboração de um projeto, que é explicar para nós mesmos, em primeiro lugar, por que sonhamos e queremos realizar este sonho.
Terceiro passo: Justificativa (por que sonhamos)
 “Considerando a nossa identidade, considerando a nossa realidade e o contexto, considerando os nossos dons... achamos importante, necessário, urgente que se faça realidade o nosso sonho.” A justificativa é uma exposição de motivos. Assim, podemos formulá-la em forma de “considerandos”. Nesses considerandos deve aparecer:
 q      a situação atual (considerando a realidade e os objetivos da comunidade, do grupo etc.)
 q      a situação esperada ao final do projeto
 q      o tempo de duração do projeto
 q      as estratégias
 q      a importância dessa iniciativa
 q      as condições de realização do projeto
 q      outras considerações que sejam úteis e necessárias para convencer-nos a nós e aos outros da necessidade de realizarmos o nosso sonho.
Nessa fase da elaboração do projeto nós estamos crescendo para a formulação central do projeto: o seu objetivo geral.
Quarto passo: Objetivo Geral (onde queremos chegar)
 O objetivo geral é o resumo, em uma frase clara e objetiva, do cerne do nosso sonho. Ele expressa a finalidade última do projeto. Ele precisa ser compreendido e aceito por todos os implicados no projeto. Deve iniciar com o verbo no infinitivo (realizar, promover, proporcionar, etc.) O objetivo geral não deve ser tão abrangente e ambicioso que seja impossível alcançá-lo nem tão modesto e acanhado que se o alcance muito facilmente. Ao formular o objetivo geral precisamos levar em conta:
 q      se está de acordo, se é coerente, com os objetivos da comunidade/organização
 q      se está de acordo com o contexto do projeto
 q      se é possível de ser alcançado
 q      se está clara a situação esperada no final do projeto
 q      se está expresso de um modo que possamos verificar se o alcançamos ou não ao final do projeto
 q      se confere com as razões do projeto, expressas na justificativa
 q      se expressa o nosso sonho
O objetivo geral é o ponto de chegada de um projeto. É o sonho realizado. Mas entre o ponto de partida, o sonho sonhado, e o ponto de chegada, o sonho realizado, há uma série de etapas intermediárias, que precisam ser alcançadas e vencidas. Estas são formuladas na forma de objetivos específicos. Esse é o nosso próximo passo.
Quinto passo: Objetivos Específicos (os passos para chegar onde queremos)
 O objetivo geral será alcançado pela realização de várias atividades e transformações específicas. Os objetivos específicos, portanto, explicam como o objetivo geral será alcançado, definindo as metas que deverão ser atingidas à medida que o projeto avança. Como para uma caminhada é preciso dar um passo de cada vez, os objetivos específicos são passos para chegar onde sonhamos. Assim, eles devem ser formulados de modo que:
 q      estejam numa seqüência de ações sucessivas
 q      estejam distribuídos pelo tempo que decorre o projeto todo
 q      sejam realizáveis
 q      sejam claros, objetivos e precisos
 q      possam ser facilmente medidos ou verificáveis quanto ao seu cumprimento
 q      levem em conta o público-alvo
Os objetivos específicos são metas para serem atingidas durante a realização do projeto. Cada meta alcançada nos coloca mais perto da realização do objetivo geral e, conseqüentemente, da concretização do nosso sonho. Mas é preciso que saibamos como alcançar essas metas, que caminho seguir. E isso nos é dado no próximo passo: a metodologia.
Sexto passo: Metodologia (como dar os passos para chegar onde queremos)
Se os objetivos específicos nos levam ao objetivo geral, a metodologia é a descrição do processo – ou, como diz o nome, do método – de como cada objetivo específico será alcançado. A metodologia dá ferramentas para estabelecermos as ações ou atividades que nos permitem alcançar as metas propostas nos objetivos específicos. Ao definir a metodologia, devemos nos perguntar:
 q     como é que o público-alvo participa do nosso projeto?
 q     que estratégias precisamos usar para alcançar o nosso objetivo?
 q    como vamos nos organizar para realizar as metas propostas?
Se, por exemplo, entre os objetivos específicos está “sensibilizar o público alvo para a realidade tal”, na metodologia vamos descrever como isso se dará. No exemplo, pode-se dizer que esta meta será alcançada através das seguintes ações: “distribuição de folhetos” ou “visitação” ou ainda “por meio de palestras”, etc. A metodologia, portanto, vai expor a necessidade de definirmos ações ou atividades concretas a serem realizadas pela equipe do projeto. Mas este já é o nosso próximo passo.
Sétimo passo: Ações/Atividades (o que fazemos)
 As ações são a parte mais concreta do projeto. Nesse passo, definimos que atividades vamos realizar para alcançar cada um dos objetivos específicos. Talvez haja objetivos que necessitem de uma ação apenas. Outros talvez vão requerer duas, três ou mais ações. O ideal é escrever abaixo de cada objetivo específico, as ações que serão necessárias ao seu cumprimento.
 No exemplo acima, ficaria assim:
[Objetivo específico: sensibilizar o público alvo para a realidade tal
Metodologia: distribuição de folhetos
Ações/Atividades:
1. produzir os folhetos
2. distribuir os folhetos entre o público-alvo
 Mas quando começamos a pensar em ações e atividades, logo vem a pergunta pelos recursos de que dispomos. O nosso próximo passo é orçamento.
Oitavo passo: Orçamento (os recursos de que necessitamos para realizar o nosso sonho)
 Orçamento é muito mais do que apenas listar receitas e despesas. No orçamento devem estar listados todos os recursos necessários para o desenvolvimento do projeto. “Todos os recursos” significa dizer, os recursos financeiros, materiais, humanos, de serviços, de infraestrutura, etc. No orçamento deve estar assegurado que:
 q      os recursos listados são realmente necessários à realização das atividades
 q      os custos orçados são necessários e suficientes para garantir a execução do projeto
 q      a descrição dos recursos necessários é detalhada, porém limitada à compreensão
 q      os custos estão definidos de forma precisa e verificável, isto é, a qualquer momento se pode saber o que se necessita e como se tem usado os recursos financeiros 
A elaboração de um orçamento nem sempre é levada a sério. Mas é um passo importante na elaboração de um projeto, porque, de um lado, evita o desperdício de recursos e, de outro, garante que o projeto não será interrompido por falta de recursos. Além disso, permite prever entre as ações aquelas necessárias a garantir os recursos para o projeto.
 O último passo para elaboração de projeto comunitário é a definição de um cronograma.
Nono passo: Cronograma (o tempo que vamos levar para alcançar o nosso sonho)
 O cronograma tem uma importância estratégica para o projeto. Ele é uma representação gráfica do tempo de todas as atividades e ações propostas. Nele devem estar listados, no mínimo:
 q   os objetivos específicos
 q   todas as atividades propostas
 q   o início e o fim de cada atividade
 q   o(s) responsável(is) pelas atividades
Além disso, o cronograma deve ser compreendido pela equipe do projeto e baseado em estimativa de tempo realista, de acordo com a disponibilidade dos recursos. Veja modelo de tabela.
Objetivos Específicos
Ações
Início
Fim
Responsável
1. escrever o objetivo específico. Exemplo: “sensibilizar o público alvo para a realidade tal
1. escrever a ação nº 1 deste objetivo. Exemplo: “Produzir folhetos de sensibilização
Escrever a data em que a ação começa. Exemplo: “15 de março”
Escrever a data em que a ação termina. Exemplo: “15 de abril”
Vera
 
2. escrever a ação nº 2 deste objetivo: Exemplo: “Distribuir folheto entre o público alvo
Escrever a data em que a ação 2 começa. Exemplo: “16 de abril”
Escrever a data em que a ação termina. Exemplo: “final de maio”
Hildegart
 
2. escrever o objetivo 2
1. escrever a ação nº 1 deste objetivo
Escrever a data em que a ação começa
Escrever a data em que a ação termina.
Vera
Implementação do Projeto
 A implementação é a fase operacional do desenvolvimento do projeto. É a hora em que o projeto começa a se tornar realidade. É o momento em que damos os primeiros passos para colocar em prática o que planejamos e, assim, alcançarmos o nosso sonho.
 Mas, como todo caminho longo, é preciso, vez ou outra, uma parada para avaliar. Aliás, essa parada para avaliação pode estar contemplada no cronograma, como uma ação periódica. Durante o desenvolvimento do projeto é preciso acompanhar a sua execução, monitorar e avaliar constantemente para verificar se estamos chegando mais perto de realizar o nosso sonho.
 Monitorar significa acompanhar os custos e conferir sistematicamente todas as atividades do projeto. O monitoramento permite a avaliação. Para avaliar, é preciso saber fazer algumas perguntas. São elas:
 q  Como estão as atividades em relação ao prazo, custos, desenvolvimento das atividades? (em caso de atrasos ou gastos excessivos, deve-se perguntar porque isso ocorre)
 q  O projeto está sendo desenvolvido conforme o planejado? (em caso de resposta negativa, por quê?)
 q  Quais são os problemas que estão surgindo?
 q  Existe alguma coisa que deveria ser feita e não está se fazendo?
A avaliação deve enfocar as partes e o todo de um projeto. Os resultados de uma avaliação devem mostrar o que foi alcançado pelo projeto em relação aos seus objetivos, desenvolvimento, prazos e custos. O cronograma ajuda-nos acompanhar a realização do projeto e se estamos alcançando as metas que nos propusemos.
Ao avaliarmos, podemos colocar mais uma coluna na tabela do cronograma com uma frase avaliativa ou um comentário que diga se uma ação foi realizada de acordo com o planejado ou, se não foi, por que não foi. Isso vai ser muito útil na avaliação final do projeto.

Ponto Final

Na prática, ao elaborarmos projetos de trabalho comunitário, estamos tentando dizer onde queremos chegar: Esse é o nosso sonho. Estamos querendo definir onde estamos: Esta é a nossa realidade. E estamos buscando estabelecer um jeito de ir da realidade ao sonho, ou do sonho à realidade.
 E isso, como vimos acima, não é tarefa para gênios nem acontece por mágica. Elaborar projetos é tarefa de equipe, de grupo. Exige muito mais do que esfregar uma lâmpada. Requer disciplina, objetividade, trabalho, visão, pesquisa e bastante debate. Enfim, algo que qualquer pessoa pode fazer.
 Ao terminar a elaboração de seu projeto, você pode buscar no objetivo geral o título que você vai colocar na folha de rosto. Depois é só assinar e colocar o ponto final.